quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Após declarações homofóbicas, professor diz que pediria perdão "de joelhos"


"Fico preocupado. Foi um desgaste muito grande. Já pedi desculpas no Facebook e propus um debate", disse o professor. Foto: Roberto Ramos/DP/D.A Press

Trinta e cinco pedidos de providências contra o professor Ademir Ferraz, que publicou críticas a homossexuais em seu perfil no Facebook, tinham sido feitas até ontem à Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), onde ele ensina. A ouvidoria da instituição deverá encaminhar as demandas à reitoria nos próximos dias. Até o momento nenhuma sanção foi tomada contra o professor, que está vinculado ao Departamento de Pesca e Aquicultura. O episódio levantou a discussão sobre os limites na internet. Como protesto, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) vai realizar, amanhã, na universidade, uma série de atos. O primeiro será um debate às 13h, no Centro de Ensino de Graduação Obra-Escola (Cegoe), com os temas “O que é homofobia” e “Por uma universidade sem opressão”. Às 15h, haverá um ato público pela universidade e às 18h um cinedebate com o filme Escolas sem preconceitos. 

A polêmica começou no último dia 9, quando Ademir Ferraz, docente da Rural há 33 anos, publicou que tem “ódio a homo galinha”. “Estou começando a odiar estes fresquinhos tipo galinha choca. Você é homo, tudo bem, mas precisa ficar jogando pena para todo lado?”. Ontem, em entrevista por telefone, Ademir disse que se arrependeu das declarações porque teme represálias a sua família. “Eu já pedi desculpas. Eu peço perdão até de joelhos”, disse o professor, que é natural de Bom Conselho, no Agreste, e disse que seria capaz de ir de joelhos até Garanhuns, a 228 km do Recife e 50 km de sua cidade natal. Segundo ele, a repercussão estaria ligada a uma questão política envolvendo a Associação dos 

Docentes da Universidade Federal de Pernambuco (Adufepe) e o DCE. Sobre uma possível punição por parte da UFRPE, Ademir afirmou estar tranquilo, porque escreveu as frases em um perfil particular na internet. O secretário-geral do DCE, Tulio de Luna, se defendeu dizendo que o professor está tentando desviar o foco, já que suas declarações tomaram muita proporção.

ApuraçãoA Rural informou que está apurando o assunto e não tem previsão para dar uma resposta. Ontem, a reitora Maria José de Sena conversou com o procurador da instituição, Gustavo Carneiro Leão, para discutir que tipo de ingerência a universidade tem sobre o assunto. De acordo com a UFRPE, o procurador recomendou que a Rural aguardasse a chegada do material que será encaminhado pela ouvidoria para ver que providências poderiam ser tomadas. Já a comissão de Apoio à Diversidade Sexual e Combate a Homofobia da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/PE) repudiou as críticas do professor e disse que vai levantar informações para analisar possíveis providências. 

Paralelamente às críticas, também houve quem saísse em defesa do professor. “Uma perda de tempo imensa se voltar contra o Ademir que nada fez além de declarar seu ódio (sim, não é crime sentir ódio, a lei não nos obriga a amar) em sua página no Facebook da mesma maneira que vocês declaram ódio ao Feliciano, Silas e toda a trupe do barulho gospel”, escreveu a internauta Prika Cabral. 


Entrevista >> Ademir Ferraz

Suas declarações causaram forte repercussão. O senhor se arrependeu?

Me arrependo muito. Fico preocupado. Foi um desgaste muito grande. Já pedi desculpas no Facebook e propus um debate. Uma aluna chamada Jaqueline abraçou a ideia e disse que iria organizar um debate. Pediram minha presença. Eu pedi que ela me desse um documento garantindo minha segurança, mas ela disse que não poderia me dar. Eles garantiram que não iria acontecer nenhum problema lá, mas não me deram um documento. Se dessem eu iria. Tenho 33 anos de universidade e não vou estar apanhando de ninguém. Tudo isso é briga política.

De quem?

São dois grupos políticos na universidade. Um é encabeçado por mim. Nós queremos fazer um sindicato acadêmico. Outro grupo é do Adufepe (da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Pernambuco). Tem também o DCE. Eu fiz muitas críticas pelo fato deles não terem enfrentado a greve dos alunos de Zootecnia junto com eles. Eles são ligados ao PSTU e já estão sabendo que vão perder nas próximas disputas. Tenho 33 anos na universidade e sou uma voz forte lá. Já tirei eles duas vezes de lá. Eles estão magoados e ficaram esperando que eu perdesse o equilíbrio para que pudessem me pegar. Toda essa polêmica nasceu de uma questão política.

O senhor recebeu alguma ameaça?Meu Facebook está uma esculhambação. Recebi umas mensagens dizendo que queriam me encontrar. Não vou procurar briga com aluno. Vou completar 63 anos. Eu me arrependo muito. Eu peço perdão indo de joelhos até Garanhuns. Tenho medo de represálias com minha família. Tenho um filho e uma filha. Podem dizer que “filho de peixe peixinho é”. Mais uma vez eu digo que me arrependo demais desse bafafá todo, mas sei que eles querem assim. Eu não vou recuar, vou sustentar. Não vou mudar de país, não vou sair da universidade e não vou me suicidar. Então não tenho para onde correr. 

O senhor teme possíveis punições por parte da universidade?Não. Estou tranquilo. Não há possibilidade de dar nenhum processo para mim. Fiz no meu Facebook particular e não no da instituição. A única esfera onde eu poderia responder é a criminal. 

E o que motivou a sua postagem?Há uns 15 dias eu estava dirigindo para Casa Forte e um rapaz bateu no carro da frente. O sinal estava fechado e eu parei. Fiquei olhando. Desceu do carro um homem e ele foi na direção do outro. Ele gesticulava muito. O outro deu um empurrão e ele se jogou no chão. Ficou gritando, dizendo que era gay e que estava sendo vítima de homofobia. Ai eu desci do carro. Ele ficou no chão, se tremendo. Por que ele se jogou no chão? Sabia que iria ser protegido. Umas pessoas queriam dar no que deu o empurrão. Depois apareceram duas mulheres dizendo que aquilo era homofobia. Acabamos indo para a delegacia. Dei meu depoimento e fui embora. Quando entrei na internet contei a história. Não aguento esse tipo de homossexual. Acho que tem que ter limite. Minha intenção não foi de ofender. Mas não vou me preocupar agora porque tenho que organizar um trabalho na França para março e um congresso sobre ensino de matemática, em julho.

Fonte:g1.globo.com


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